PAIXÕES/
EGOÍSMO/
CARACTERES
DO HOMEM DE BEM/
CONHECIMENTO
DE SI MESMO
Na pergunta 629 do Livro dos Espíritos de
Allan-Kardec:
Que definição se pode dar da moral?
“A moral é a regra de bem proceder, isto é de
distinguir o bem do mal.
Funda-se na observância da lei de Deus. O homem
procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de
Deus.”
“ O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o
mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a
lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la.
Analisemos as
paixões: todas as paixões têm uma utilidade providencial, visto que, a
não ser assim, Deus teria feito coisas inúteis e, até nocivas.
No seu abuso é que reside o mal e o homem abusa em virtude
do seu livre-arbítrio. Mais tarde, esclarecido pelo seu próprio interesse
livremente escolhe entre o bem e o mal.
O homem tem sempre ao seu dispor meios para
distinguir o que é bem e o que é mal, quando crê em Deus e o quer saber, pois
para isso é dotado da inteligência. Jesus deu-nos a chave, dizendo: “O que
quereis que vos façam, fazei aos outros”. É preciso que o Espírito seja
colocado neste mundo entre o bem e o mal, para que ganhe experiência. A lei de
Deus é a mesma para todos, porém o mal depende principalmente da vontade que se
tenha de o praticar. Tanto mais culpado é o homem quanto melhor sabe o que faz.
907— Será substancialmente mau o princípio
originário das paixões, embora esteja na Natureza?
“ Não a paixão está no excesso de que se acresce a
vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem,
tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que
delas se faz é que causa o mal.
908 — Como se poderá determinar o limite onde as
paixões deixam de ser boas para se tornarem más?
As paixões são como um corcel, que só tem utilidade
quando governado e que se torna perigoso desde que passe a governar.
Uma paixão se torna perigosa desde que passe a
governar.
Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em
que deixais de poder governá-la e que dá em resultado um prejuízo qualquer para
vós mesmos, ou para outrem”
E Kardec, ainda acrescenta: — As paixões são
alavancas que duplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos
desígnios da Providência. Mas, se, em vez de as dirigir, deixa que elas o
dirijam, cai o homem nos excessos e a própria força que, manejada pelas suas
mãos, poderia produzir o bem, contra ele se volta e o esmaga.
Todas as paixões têm seu princípio num sentimento,
ou numa necessidade natural. O princípio das paixões não é, assim, um mal, pois
que assenta numa das condições providenciais da nossa existência.
A paixão propriamente dita é a exageração de uma
necessidade ou de um sentimento. Está no excesso e não na causa e este excesso
se torna um mal, quando tem como consequência um mal qualquer. Toda paixão que
aproxima o homem da natureza animal afasta-o da natureza espiritual.
Todo o sentimento que eleva o homem acima da
natureza animal denota predominância do Espírito sobre a matéria e o aproxima
da perfeição.
909 — Poderia o homem, pelos seus esforços, vencer
as suas más inclinações?
“Sim e, frequentemente, fazendo esforços muito
insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! Quão poucos dentre vós fazem
esforços!”
910 — Pode o homem achar nos Espíritos eficaz
assistência para triunfar de suas
paixões?
“Se o pedir a Deus e ao seu bom génio, com
sinceridade, os bons Espíritos lhe virão certamente em auxílio, porquanto é
essa a missão deles.”
459 — Influem os Espíritos em nossos pensamentos e
em nossos actos?
“Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto,
que, de ordinário, são eles que vos dirigem.”
911— Não haverá paixões tão vivas e irresistíveis,
que a vontade seja impotente para dominá-las?
“Há muitas pessoas que dizem: Quero, mas a vontade
só lhes está nos lábios.
Querem, porém muito satisfeitas ficam que não seja
como “querem”.
Quando o homem crê que não pode vencer as suas
paixões, é que seu Espírito se compraz nelas, em consequência da sua
inferioridade.
Compreende a sua natureza espiritual aquele que as
procura reprimir. Vencê-las é, para ele, uma vitória do Espírito sobre a
matéria.”
912— Qual o meio mais eficiente de combater o
predomínio da natureza corpórea?
“Praticar a abnegação.
A
Doutrina Espírita nos ensina que todas as paixões têm como princípio originário
uma necessidade ou um sentimento natural, colocados em nosso âmago com fim de
estimular-nos ao trabalho e à conquista da felicidade.
“ Deus é Amor” e, ao criar-nos fez-nos participantes
de sua natureza, isto é, dotados dessa virtude por excelência, carecendo apenas
que a desenvolvamos e a depuremos, até à sublimação.
Houve por bem, então, tornar-nos sensíveis ao prazer
para que cada um de nós, buscando-o cultivasse o amor a si mesmo, para, numa
outra etapa, ser capaz de estender esse amor aos semelhantes.
Pode parecer que a busca do prazer pessoal seja uma
forma errónea, por sumamente egoísta, para que possa conduzir-nos à efectivação
desse grandioso desiderato. Deus, porém, em sua omnisciência, sempre escolhe os
melhores caminhos possíveis para o nosso progresso, e se assim há determinado é
porque sabe que, sem experimentarmos, antes, quanto é bom o amor que nos
devotamos e ao qual tudo sacrificamos, jamais chegaríamos ao extremo oposto, de
sacrificar-nos por amor a outrem.
Os gozos que o mundo nos proporciona, entretanto são
regulados por leis divinas, que lhes estabelecem limites em função das reais
necessidades do nosso corpo físico e dos justos anseios de nossa alma, e
transpô-los ocasiona consequências tanto mais funestas quanto maiores sejam os
desmandos cometidos.
Nisto, como em todo aprendizado que lhe cumpre
fazer, seja de um ofício, de uma arte, ou do exercício de um poder qualquer, o
homem começa causando, a si mesmo e ao próximo, mais prejuízos que benefícios.
É que, em sua imensa ignorância, não sabe distinguir
o uso do abuso, exagera suas necessidades e sentimentos e é aí no excesso,
que aquelas e estes se transformam em paixões,
provocando perturbações e danos ao seu organismo e ao seu psiquismo.
Apresentemos alguns exemplos:
Alimentar-nos é um imperativo da natureza, cujo
atendimento é coisa que nos dá grande satisfação. Quantos, entretanto, façam
dos “prazeres da mesa” a razão de sua existência, rendendo-se à glutonaria,
mais dias, menos dias, terão que pagar, com a enfermidade, senão mesmo com a
morte, o preço desses maus hábitos.
Muito natural o nosso desejo de preparar dias
melhores para nós e para a nossa família, bem assim as lutas a que nos
entregamos e os sacrifícios que nos impomos, visando a tal objectivo. Todavia,
é preciso que essa preocupação pelo futuro não ultrapasse os limites do
razoável, para que não se converta em obsessão.
A recreação, por outro lado, é uma exigência de
nosso espírito, e os entretenimentos ocasionais valem por excelentes factores
de higiene mental. Infelizes, no entanto, os que, seduzidos pelas emoções de
uma partida de baralho ou de vispora, pelo lucro fácil de um lance na roleta,
ou quejandos, se deixam dominar pelo jogo! A desgraça não tardará a abatê-los,
como abatidos têm sido todos quantos se escravizam a essa terrível viciação.
Calor excessivo ou frio intenso podem forçar-nos,
vez por outra, a um refrigerante gelado ou a uma dose alcoólica, com o que nos
dessedentamos, ou nos reconfortamos gostosamente. Mas todo cuidado será pouco
para não descambarmos para a bebedice, pois seus malefícios, provam-no as
estatísticas assumem características de verdadeiro flagelo social.
Todos nós sentimos necessidade de dar e de receber
carinho, já que ninguém consegue ser feliz sem isso. É de todo conveniente,
entretanto, repartir nosso afecto com os que pertencem ao nosso círculo
familiar, estendê-lo a amigos e outos semelhantes, evitando concentrá-lo em uma
só pessoa, fazendo depender unicamente dela o nosso interesse pela vida, pois,
ao perder esse alguém, podemos sofrer um golpe doloroso demais para ser
suportado sem perda do equilíbrio espiritual.
Não há quem não deseje auto-afirmar-se, mediante, a
realização de algo que corresponde às suas tendências dominantes, daí porque
alguns se atiram, com inusitado entusiasmo, a determinados estudos, outros se
empolgam na procura ou no apuramento de uma nova técnica com que sonham
projectar-se na especialidade de uma nova técnica com que sonham projectar-se
na especialidade de sua predilecção, e outros ainda descuidam de tudo e de
todos para devotar-se, inteiramente, às actividades artísticas ou científicas
que os abrasam. Importa, porém, acautelar-nos com o perigo do monoideísmo,
responsável por neuroses ou insânias de difícil recuperação.
Como se vê, o princípio nada tem de mau, visto que
“assenta numa das condições providenciais de nossa existência,”
Podendo inclusive, em certos casos e enquanto
governadas, levar o homem a feitos nobilitantes.
Todo o mal, repetimo-lo, reside no abuso que delas
se faz.
Urge, portanto, que, na procura do melhor, do que
nos traga maior soma de gozo, aprendamos a respeitar as leis da vida, para que
elas inexoráveis como são, não se voltem contra nós, compelindo-nos a penosos processos
de reajuste e reequilíbrio.
Umas breves notas sobre o egoísmo:
Dentre os vícios, qual o que se pode considerar
radical?
913 — Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí
deriva todo o mal.
Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de
todos há egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não chegareis a extirpá-los,
enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a
causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito, porquanto aí é que
está a verdadeira chaga da sociedade.
Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da
perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo,
visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e caridade. Ele
neutraliza todas as outras qualidades.
914— Fundando-se o egoísmo no sentimento do
interesse pessoal, bem difícil parece extirpá-lo inteiramente do coração
humano. Chegar-se-à a consegui-lo?
“À medida que os homens se instruem
acerca das coisas espirituais, menos valor dão às coisas materiais.
Depois, necessário é, que, se reformem
as instituições humanas que o entretêm e excitam. Isso depende da educação.”
915 — Por ser
inerente à espécie humana, o egoísmo, não constituirá sempre um obstáculo ao
reinado do bem na Terra?
“ É exacto que no egoísmo tendes o vosso maior mal,
porém, ele se prende à inferioridade dos Espíritos encarnados na Terra e não à
Humanidade mesma. Ora, depurando-se por encarnações sucessivas, os Espíritos se
despojam do egoísmo, como de outras impurezas. Não existirá na Terra nenhum
homem isento de egoísmo e praticante da caridade? Há muitos mais homens assim
do que supondes. Apenas, não os conheceis, porque a virtude foge à viva
claridade do dia. Desde que haja um, porque não haverá dez? Havendo dez, por
que não haverá mil e assim por diante?
916 — Longe
de diminuir, o egoísmo cresce com a civilização, que, até, parece, o excita e
mantém. Como poderá a causa destruir o efeito?
“ Quanto maior é o mal, mais hediondo se torna. Era
preciso que o egoísmo produzisse muito mal, para que compreensível se fizesse a
necessidade de extirpá-lo. Os homens, quando se houverem despojado do egoísmo
que os domina, viverão como irmãos, sem se fazerem mal algum, auxiliando-se
reciprocamente, impelidos pelo sentimento mútuo da solidariedade.
Então, o forte será o amparo e não o opressor do
fraco e não mais serão vistos homens a quem falte o indispensável, porque todos
praticarão a lei de justiça. Esse o reinado do bem, que os Espíritos estão
incumbidos de preparar.
“ Bastante grande é a perversidade do homem.
Não parece que, pelo menos do ponto de vista moral,
ele, em vez de avançar, caminha aos recuos?
“Enganas-te. Observa bem o conjunto e verás que o
homem se adianta, pois que melhor compreende o que é mal, e vai dia a dia
reprimindo os abusos.
Faz-se mister que o mal chegue ao excesso, para
tornar compreensível a necessidade do bem e das reformas.
917— Qual o meio de destruir-se o egoísmo?
“ De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a
mais difícil de desenraizar-se porque deriva da influência da matéria,
influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pode
libertar-se e para cujo entretenimento tudo, concorre: suas leis, sua
organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a
vida moral for predominando sobre a vida material e, sobretudo, com a
compreensão, que o Espiritismo vos faculta, do vosso estado futuro, real e não
desfigurado por ficções alegóricas. Quando, bem compreendido, se houver
identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os
hábitos, os usos, as relações sociais. O egoísmo assenta na importância da
personalidade. Ora, o Espiritismo, bem compreendido, repito, mostra as coisas
de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece, de certo modo, diante
da imensidade. Destruindo essa importância, ou, pelo menos, reduzindo-a às suas
legítimas proporções, ele necessariamente combate o egoísmo.
785 — Qual o maior obstáculo ao progresso?
O orgulho e o egoísmo. Refiro-me ao progresso moral,
porquanto o intelectual se efectua sempre. À primeira vista, parece mesmo que o
progresso intelectual reduplica a actividade daqueles vícios, desenvolvendo a
ambição e o gosto das riquezas, que a seu turno, incitam o homem a empreender
pesquizas que lhe esclarecem o Espírito. Assim é que tudo se prende, no mundo
moral, como no mundo físico, e que do próprio mal pode nascer o bem. Curta,
porém, é a duração desse estado de coisas, que mudará à proporção que o homem
compreender melhor que, além da que o gozo dos bens terrenos proporciona uma felicidade
existe maior e infinitamente mais duradoura.
A paixão está no excesso do que se acresce à
vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem,
tanto que a paixão pode levá-lo à realização de grandes coisas.
O abuso que dela se faz é que causa o mal.
Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em
que o homem deixa de poder governá-la.
O homem pelos seus esforços, pode vencer as suas más
inclinações. Quando não as vence é porque lhe falece a vontade, pois se pedir a
Deus e ao seu bom génio, os bons Espíritos o auxiliarão. Vencer as paixões,
representa uma vitória do Espírito sobre a matéria, e que pode ser obtida com a
prática da abnegação.
O egoísmo é a raiz de todos os vícios, porque dele
derivam todos os males. Todos os esforços do homem devem tender para extirpar o
egoísmo. Ele se funda no interesse pessoal mas, à medida que os homens se
instruem acerca das coisas espirituais, menos valor dão às coisas. Daí a
necessidade de ir o homem se libertando da influência da matéria, fazendo com
que a vida moral vá predominando sobre a vida material, com a compreensão do
seu futuro real, actualmente desfigurado por ficções alegóricas.
O egoísmo é a fonte de todos os vícios. Dele dimanam
a ambição, o ciúme, a inveja, o ódio, o orgulho e todos os males que
infelicitam a Humanidade, pelas mágoas que produzem, pelas dissensões que
provocam e pelas perturbações sociais a que dão ensejo.
Vemo-lo manifesto neste mundo sob as mais variadas
formas, a saber: egoísmo individual, egoísmo familiar, egoísmo de classe,
egoísmo de raça, egoísmo nacional, egoísmo sectário.
Em seu aspecto individual, funda-se num sentimento
exagerado de interesse pessoal, no cuidado exclusivo de si mesmo, e no desamor
a todos os outros, inclusive os que habitam o mesmo tecto, os quais, não raro,
são os primeiros a lhe sofrerem os efeitos.
O egoísmo familiar consiste no amor aos pais,
irmãos, filhos, enfim àqueles que estão ligados pelos laços da consanguinidade,
com exclusão dos demais. Limitados por esse espírito de família, são muitos,
ainda, os que desconhecem que todos somos irmãos e (filhos de um único Pai
Celestial), e se furtam a qualquer expressão de solidariedade fora do círculo
restrito da própria parentela.
O egoísmo de classe se faz sentir através dos movimentos
reivindicatórios tão em voga em nossos dias. Ora é uma classe profissional que
entra em greve, ora é outra que promove dissídio,
Ou são servidores públicos que pressionam os
governos a fim de forçar o atendimento às suas exigências, agindo cada grupo
tão, somente em função de suas conveniências, sem atentar para o desequilíbrio
e os sacrifícios que isso possa custar à colectividade.
O egoísmo de raça é responsável, também, por uma
série de dramas e conflitos dolorosos.
Que o digam os pretos, vítimas de cruéis
descriminações em várias partes do mundo, assim como os enamorados que, em tão
grande número, não puderam tornar-se marido e mulher, consoante os anseios de
seus corações, porque os prejuízos raciais de seus familiares falaram mais
alto, impedindo a concretização de seus sonhos de felicidade.
O egoísmo nacional é o que se disfarça ou se esconde
sob o rótulo de “patriotismo.” Habitantes de um país, a pretexto de engrandecer
sua pátria, invadem outros países, escravizam-lhe as populações, destroem-lhes
a nacionalidade, gerando, assim, ódios insopitáveis que, mais dia menos dia,
hão-de explodir em novas lutas sanguinolentas.
O egoísmo sectário é aquele que transforma crentes
em fanáticos, a cujos olhos só a sua igreja é verdadeira e salvadora, sendo,
todas as outras fontes de erro e de perdição, fanáticos aos quais se proíbe de
ouvir ou ler qualquer coisa que contrarie os dogmas de sua organização
religiosa, aos quais se interdita auxiliar instituições de assistência social
cujos dirigentes tenham princípios religiosos diversos do seus, e aos quais se
inculta ser um dever de consciência defender tamanha estreiteza de sentimentos.
Esse tipo de egoísmo é, seguramente, o mais funesto,
por se revestir de um fanatismo religioso, obstando que os ingénuos e
desprevenidos o reconheçam pelo que é, na realidade.
Foi esse egoísmo sectário que, no passado, promoveu
as chamadas guerras religiosas e a “Santa” Inquisição, de tão triste memória,
infligindo torturas e mortes excruciantes a centenas de milhares de homens,
mulheres e crianças, e, ainda hoje, desperta, acoraçoa e mantém a animosidade
entre milhões de criaturas, retardando o estabelecimento daquela Fraternidade
Universal que o Cristo veio preparar com o seu Evangelho de Amor.
O Espiritismo, pela poderosa influência que exerce
no homem, fazendo-o sentir-se um ser cósmico, destinado a ascender pelo
progresso moral às mais esplendorosas moradas do Infinito, é o mais eficaz
antídoto ao veneno do egoísmo; praticá-lo é, pois trilhar o caminho da Evolução
e preparar-se um futuro incomparavelmente mais feliz!
O homem de bem:
918 — Por que indícios se pode reconhecer em um
homem o progresso real que lhe elevará o Espírito na hierarquia espírita?
“ O Espírito prova a sua elevação, quando todos os
actos de sua vida corporal representam a prática da lei de Deus e quando
antecipadamente compreende a vida espiritual”.
Verdadeiramente, o homem de bem é o que cumpre a lei
de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza.
Se interroga a própria consciência sobre os actos,
perguntará se não transgrediu essa lei, se não fez o mal, se fez todo o bem que
podia, se ninguém tem motivos para dele se queixar, enfim se fez aos
outros o que desejara que lhe fizessem.
Possuído do sentimento de caridade e de amor ao
próximo, faz o bem pelo bem, sem contar com qualquer retribuição, e sacrifica
seus interesses à justiça.
É bondoso, humanitário e benevolente para com todos,
porque vê irmãos em todos os homens, sem distinção de raças, nem de crenças.
Se Deus lhe outorgou o poder e a riqueza, considera
essas coisas como Um Depósito, de que lhe cumpre usar para o bem. Delas
não se envaidece, por saber que Deus, que lhas deu, também lhas pode retirar.
Se sob a sua dependência a ordem social colocou
outros homens, trata-os com bondade complacência, porque são seus iguais
perante Deus. Usa da autoridade para lhes levantar o moral e não para os
esmagar com o seu orgulho.
É indulgente para com as fraquezas alheias, porque
sabe que também precisa da indulgência dos outros e se lembra destas palavras
do Cristo: Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado.
Não é vingativo. A exemplo de Jesus, perdoa as
ofensas, para só se lembrar dos benefícios, pois não ignora que, como houver
perdoado, assim perdoado lhe será.
Respeita, enfim, em seus semelhantes, todos os
direitos que as leis da Natureza lhes concedem, como quer que os mesmos
direitos lhe sejam respeitados.
O meio mais prático, mais eficaz para o homem se
melhorar nesta vida e resistir à atracção do mal, é o indicado por um sábio da
antiguidade, que já dizia:” “Conhece-te a ti mesmo”
Santo Agostinho afirma: “O conhecimento de si mesmo
é, portanto, a chave do progresso individual.”
Desse modo,” conhecer-se a si mesmo” é a condição
indispensável para nos levar a assumir deliberadamente o combate à
predominância da natureza corpórea.
A disposição de conhecer-se a si mesmo pode surgir
naturalmente como fruto do amadurecimento de cada um, de forma espontâneo,
nata, resultante da própria condição espiritual do indivíduo, ou poderá ser provocada
pela acção do sofrimento renovador que, sensibilizando a criatura, desperta-a
para valores novos do espírito. Uns chegam pela compreensão natural, outros,
pela dor, que também é um meio de despertar a nossa compreensão.
Um grande número de indivíduos são levados, devido a
desequilíbrios emocionais, a gabinetes psiquiátricos ou psicoterápicos para
tratamentos específicos. Através desses tratamentos vêm a conhecer as origens
de seus distúrbios, aprendendo a identifica-los e a controlá-los, normalizando,
até certo ponto, a sua conduta. Porém, isso ocorre dentro de uma motivação de
comportamento compatível com os padrões de algumas escolas psicológicas, quase
todas materialistas.
Conhecimento de nós mesmos:
O estudo da Doutrina Espírita faculta-nos a chave,
para nós nos podermos conhecer intimamente, dando-nos amplas oportunidades de
estudo e todas as possibilidade, através do conhecimento que nos faculta, para nos
renovarmos interiormente, e dessa forma corrigirmos os nossos defeitos,
ensinando-nos a ser pessoas cada vez melhores, mais responsáveis mais
humanas e mais conscientes.
Na Doutrina Espírita, como Cristianismo Redivivo, buscamos
o conhecimento de nós mesmos, o consolo e a esperança num sentido mais amplo, dando-nos
a conhecer os ensinamentos evangélicos, únicos padrões condizentes com a nossa realidade
espiritual nos dois planos da nossa existência.
É preciso então despertar em nós a necessidade de
conhecer o nosso íntimo, objectivando a nossa transformação dentro do sentido
cristão original, ensinado e exemplificado pelo nosso Divino Mestre Jesus.
Conhecer exclusivamente as causas e as origens de
nossos traumas e recalques, de nossas distonias emocionais nos quadros da
presente existência é limitar os motivos dos nossos conflitos, olvidando a
realidade das nossas existências anteriores, os delitos transgressores do
ontem, que nos vinculam aos processos de reequilibradores e aos reencontros
conciliadores do hoje.
As motivações que nos induzem a desenvolver nossa
remodelação de comportamento projectam-se igualmente para o futuro da nossa
eternidade espiritual, onde os valores ponderáveis são exactamente aqueles
obtidos nas conquistas nobilitantes do coração.
Percebendo nós o nosso passado longínquo de erros,
trabalhemos livremente no presente, preparando um futuro existencial mais suave
e edificante.
Esse é o amplo contexto da nossa realidade
espiritual, à qual almejamos nos integrar actuantes e produtivos.
O emérito professor Allan Kardec, em sua obra O Céu
e o Inferno 1ª parte, capítulo VII, mostra-nos, nos itens 16 do Código Penal da
Vida Futura, que no caminho para a regeneração não basta ao homem o
arrependimento. São necessárias a expiação e a reparação, afirmando que “A reparação
consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito mal”, e também praticando
o bem em compensação ao mal praticado, isto é, tornando-se humilde se tem sido
orgulhoso, amável se foi rude, caridoso se foi egoísta benigno se perverso,
laborioso se ocioso, útil se foi inútil, frugal se intemperante, exemplar se o
não foi.”
Como nos poderemos reabilitar
espiritualmente:
Reabilitar-se exige modificar-se, transformar o
comportamento, a maneira de ser, de agir; é reformar-se moralmente, para se
poder melhorar espiritualmente.
Como nos conhecermos a nós próprios e conhecermos os
nossos defeitos?
Uma entidade sublimada em magnífica mensagem a
respeito, aconselha-nos: “Aquele que possuído do propósito de melhorar-se, a
fim de extirpar de si os maus pendores, como de seu jardim arranca as ervas
daninhas, evocasse todas as noites as acções que praticara durante o dia e
inquirisse de si próprio o bem ou o mal que houvera feito, grande força adquiriria
para aperfeiçoar-se porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos,
questões nítidas e precisas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que
objectivo procedeste em tal ou qual circunstância, sobre se obraste alguma acção
que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: se aprouvesse a Deus chamar-me
neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo
dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado? Examinai o que poderdes ter obrado
contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As
respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de
um mal que precise ser curado. Não trabalhais todos os dias com o fito de
juntar haveres que vos garantam repouso na velhice? Não constitui esse repouso
o fim que vos faz suportar fadigas e privações temporárias? Pois bem! Que é
esse descanso de alguns dias, turbado sempre pelas enfermidades do corpo, em
comparação com o que espera o homem de bem?
Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de
se melhorar nesta vida e de resistir á atracção do mal?
Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti
mesmo”
Fontes bibliográficas:
O Evangelho Segundo o Espiritismo;
O Céu e o Inferno;
O Livro dos Espíritos.
Todos os livros são de Allan Kardec.
Poderão obter mais informações nas obras já citadas.
Aurinda
Tavares