quinta-feira, 14 de março de 2024

                                                                                  DEUS


                                                         DEUS

Aos olhos da alma embebecemo-nos na radiação celeste, que inunda toda a natureza.

Contempla-se a luz, as flores, os rios, os bosques, as folhagens, os inumeráveis seres da Natureza. Tudo revela potência, sabedoria, inteligência, bondade o que se faz sentir; é a universal ternura de um ser misterioso sempre, fazendo sucederem-se na superfície de uma vida que se perpetua por amor, e que jamais se extingue.

A unidade de Deus se mostra sob todas as formas.

O espírito se eleva à noção de uma lei única-lei e forças universais, que valem por expressão ativa do pensamento divino. Luz, calor, eletricidade, magnetismo, atração, afinidade, vida vegetal, instinto, inteligência, tudo deriva de Deus.

Seja de qual for a forma o observador, observe a Natureza, encontra uma trilha conducente a Deus-força viva, cujas palpitações, através de todas as formas, ele as sentirá no estremecer da sensitiva, como no canto matinal dos passarinhos.

Tudo é número, correspondência, harmonia, revelação de uma causa inteligente, agindo universal e eternamente.

Deus é a força inteligente, universal e invisível, que constrói sem cessar a obra da Natureza: Deus é o geômetra que opera eternamente. (Platão)

É nessa visualização da presença de Deus na Terra que a alma se eleva à noção do verdadeiro.

O ruído longínquo do oceano, a paisagem solitária, as águas cujos murmúrios valem sorrisos, o sono das florestas entrecortado de anseios, suspirosos, a altivez impassível das montanhas, tudo abrangendo de alto, são manifestações sensíveis da força que vela no âmago de todas as coisas. Abandonei-me, algumas vezes, a contemplar-vos, ó esplendores vívidos da Natureza! e sempre vos senti envoltos e banhados de inefável poesia! Quando meu espírito se deixa seduzir pela magia da vossa beleza, ouvia acordes desconhecidos escapando-se do vosso concerto.

Sombras noturnas que flutuais pela encosta das montanhas, perfumes que baixais das florestas, flores pendidas que cerrais os lábios, surdos rumores oceânicos que nunca vos calais, calmarias profundas de noites estreladas, tendes-me falado de Deus, certo, com eloquência mais íntima e mais empolgante que todos os livros humanos! Em vós encontrei ternuras maternais, blandícies de inocência, e, sempre que me deixava adormecer no vosso regaço, despertava alegre e venturoso. Coloridos de esplêndidos crepúsculos, deslumbramentos de clamores moribundos, visões de sítios ermos, que deliciosos momentos de ebriedade não concedeis aos que vos amam?! O lírio desabrocha e bebe, em êxtase, a luz que derrama dos Céus!

Nessas horas contemplativas, a alma transforma-se em flor, aspirando, à vida, as irradiações celestes.

A atmosfera; as plantas, os seus perfumes; a brisa; as nuvens, na Natureza pressentimos em tudo uma lei de harmonia soberana, que governa a marcha simultânea de todas as coisas, que cerca os mais ínfimos seres de uma vigilância instintiva, que guarda ciosamente o tesouro da vida em plenitude de pujança e que, por seu perpétuo rejuvenescimento, desdobra em potência imutável a fecundidade criada. Em toda esta Natureza há uma espécie de beleza universal, que nossa a alma respira e identifica, como se essa beleza pertencesse, unicamente, ao domínio da inteligência.

A natureza tem nos lábios palavras doces, no olhar tesouros de amor, e no coração sentimentos afetivos de uma preciosidade insondável, numa organização corporal, mas também tem alma e vida.

A Natureza é um ser vivo e animado-um ser amigo. Onipresente, fala-nos pelas suas cores, pelos sons e pelos movimentos; tem sorrisos para as nossas alegrias, gemidos para as nossas tristezas, simpatia para todas as nossas aspirações. Nosso organismo está em consonâncias vibratórias com todos os movimentos que constituem a vida da Natureza: ele os compreende e deles compartilhamos, de modo a nos deixarem nalma uma repercussão profunda. Congênita do princípio da criação, nossa alma reencontra o infinito na Natureza.

Para a ciência espiritualista, não mais se defrontam um mecanismo automático e um Deus retraído na sua imobilidade absoluta. Deus é potência e atos naturais ; vive na Natureza, como nele vive ela. O Espírito se faz sentir através das formas materiais, mutáveis.

A Natureza tem harmonias para a alma, tem quadros para o pensamento, tem tesouros para as ambições do Espírito e ternuras para as aspirações do coração. Sim, ela os tem, porque não nos é estranha; não está de nós segregada e somos um com ela.

“ Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.

Provas da existência de Deus. Desde que não há efeito sem causa olhando a criação, considerando o universo, podemos tomá-lo como um efeito, cuja causa é Deus.

Diz-se que pela obra se conhece o autor. Há inteligência nas manifestações gerais do universo; o homem não pode criar o que cria a natureza.

Então a causa mater da natureza é uma inteligência superior à humanidade.

Podemos dizer que, Deus é eterno, porque é a causa primeira de tudo; como infinito no tempo e no espaço, é eterno e infinito, portanto imutável, único, onipotente.

A natureza de Deus difere do que é material, dizemos que é imaterial ou um puro espírito.

Deus é infinito e eterno como causa, mantém a harmonia do universo, a imutabilidade das leis, sendo, pois, soberanamente bom e justo.

Revela-se a inteligência de Deus em suas obras, como a do pintor nos seus quadros. E como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou, assim as obras de Deus não são o próprio Deus.

Fontes de consulta: Universo e Vida e O Livro dos Espíritos.

Aurinda Tavares