sábado, 10 de março de 2018

“A PASSAGEM PARA A OUTRA MARGEM”


                             “A PASSAGEM PARA A OUTRA MARGEM” 


      
     Qual o sentimento que domina a maioria dos homens no momento da morte: a dúvida, o temor, ou a esperança?
“ A dúvida nos cépticos empedernidos; o temor, nos culpados; a esperança, nos homens de bem.” Livro dos Espíritos de Allan-Kardec.
Em O Livro dos Espíritos, o mestre lionês iniciou o trabalho estudando Deus na condição de “Causa Primária”.
Em O Livro dos Médiuns, que é um desdobramento de parte daquela obra, o Codificador examinou a questão de máxima importância, no primeiro capítulo, interrogando se “há espíritos”, como natural consequência da existência de Deus.
Sabemos que vivemos num veículo de carne, que nos movemos, que pensamos, que operamos e que morremos.
Mas, deixando a Terra, para onde vamos? Que seremos após a morte? Iremos para onde? Para melhor, ou para pior? Continuaremos a existir ou não? Viveremos eternamente, ou tudo desaparecerá para sempre?
Para a maioria das pessoas, a morte é um mistério tenebroso, ninguém compreende muito bem esse fenómeno, pois à vista desarmada, tudo acaba. Nesta perspectiva a morte não é facilmente compreensível.
Mas, continuarei a ser eu, ou o que me sucederá? Afinal estas perguntas são legítimas e aceitáveis uma vez que a maior parte de nós continua pensando que tem uma “alma” e neste caso o “ser”, que a “possui”, que é proprietário inteligente é o “corpo”. Logo o corpo termina e o resto escapa-se!
Donde vem este estado de coisas? Precisamente da materialização da vida.
Enquanto o homem não se convencer que é espírito, que possui um corpo com estas, ou com aquelas características, a morte continuará a ser um salto para o desconhecido e por mais que se expliquem as coisas, são “ouvidos” que não ouvem e que não entendem.
Temos que antes de mais mudar o conceito de “posse” do corpo para o Espírito. Quando assim acontecer facilmente compreenderemos que após a morte do corpo físico nós, almas enquanto encarnados, demandados ao além como espíritos libertos das cadeias terrenas. Bem… libertos se nos tivermos, como disse Jesus, libertado das coisas materiais, desprendido na sua significação correcta, através da evolução espiritual que tem como parâmetros a Caridade e o Amor.
Quando não, prosseguiremos amarrados à Terra, nas trevas da nossa ignorância e do sofrimento. Alimentando o nosso Espírito com ódios e revoltas pelo desconhecimento das leis que, regem os nossos destinos, à margem das leis do nosso Criador, eternas e imutáveis como o próprio Deus.
A mensagem espírita é, sem dúvida uma das mais significativas para o homem do nosso tempo, ainda algemado às coisas deste mundo. Os factos demonstram que ele tem sido um obcecado pelas ideias materialistas. Até mesmo a religião tem sido utilizada pelo homem para as suas conquistas de natureza material, teimando em rejeitar o aspecto espiritual da vida, como sendo para ele o mais importante.
Já tenho ouvido, diversas pessoas dizerem, para além desta vida nada mais há. Aqueles que morreram, ainda não voltaram cá, e por vezes acrescentam: ou estão lá, muito bem?! Ou então tudo acabou!
Estas ideias são daqueles, que, julgam, não possuírem uma alma! A Religião e a Ciência são as maiores culpadas deste tipo de raciocínios e de pensamentos, porque em vez de orientarem as pessoas pelo caminho da verdade, de forma segura e orientada, criam mentes desarticuladas, ideias materialistas e homens ateus.
Quer o homem acredite quer não, é um espírito reencarnado, e após a morte do seu corpo físico, irá para o Mundo dos Espíritos e, para a morada, correspondente à sua condição de Espírito desencarnado, de acordo à sua condição vibratória e ao seu merecimento.
Há muitas moradas na Casa de meu Pai, disse Jesus. A casa do Pai é o Universo e as diversas moradas são os diversos Mundos existentes na casa do Pai e que, circulam nesse Espaço Grandioso e Infinito.
Quando ouvimos falar de Espíritos, vêm-nos à mente imagens vagas, quase que irreais; e concebemo-los sob as mais díspares formas.
Precisamos de modificar as nossas concepções a respeito deles e convencermo-nos de que também somos espíritos; não há diferenças entre nós e eles.
A única diferença existente é que nós, estamos reencarnados e eles desencarnados. Os Espíritos desencarnados já passaram pelo fenómeno da morte, muitas vezes, e nós também da mesma forma, já passamos por essa fronteira muitíssimas vezes, mas não nos lembramos.
Todos os Espíritos necessitam de progredir, e de apagar as suas faltas passadas, e para isso, necessitam de reencarnar as vezes que lhes forem necessárias, para puderem continuar a sua marcha ascensional para Deus.
A morte não existe no sentido de aniquilamento, destruição total, transformação para o nada, separação eterna.
Nosso espírito é indestrutível e por isso é imortal.
Tanto quanto a origem do homem na face da Terra, a origem dos Espíritos é também um tema apaixonante, merecendo, um estudo muito aprofundado, para se compreenderem bem esses factos importantíssimos para todos nós.
A dúvida, no que concerne à existência dos Espíritos, tem como causa primária a ignorância acerca da verdadeira natureza deles.
Geralmente são figurados, como seres à parte da criação e de cuja existência não está demonstrada a necessidade. Muitas pessoas, mais ou menos como as que só conhecem a História pelos romances, apenas os conhecem através dos contos fantásticos com que foram acalentadas em crianças. Qual o homem que, nas horas de silêncio e recolhimento, já deixou de interrogar a Natureza e o seu próprio coração, pedindo-lhe o segredo das coisas, o porquê da vida, a razão de ser do Universo? Onde está esse que não tem procurado conhecer os seus destinos, erguer o véu da morte, saber se Deus é uma ficção ou uma realidade!
Todo o homem experimenta a necessidade de viver, de gozar e de ser feliz.
Dizei ao moribundo que ele viverá ainda; que a sua hora é retardada; dizei-lhe sobretudo que será mais feliz do que porventura o tenha sido, e o seu coração rejubilará.
Mas, de que serviriam essas aspirações de felicidade, se um leve sopro pudesse dissipa-las?
Haverá algo de mais desesperador do que esse pensamento da destruição absoluta? Afeições caras, inteligência, progresso, saber laboriosamente adquiridos, tudo despedaçado, tudo perdido! De nada nos serviria, portanto, qualquer esforço no sofreamento das paixões, de fadiga para nos ilustrarmos, de devotamento à causa do progresso, desde que de tudo isso, nada se aproveitaria, predominando o pensamento de que amanhã mesmo, talvez de nada nos serviria tudo isso. Se assim fora, a sorte do homem seria cem vezes pior que a do bruto, porque este vive inteiramente do presente na satisfação dos seus apetites materiais, sem aspirações para o futuro. Diz-nos uma secreta intuição, porém que isso não é possível.
O Espiritismo, como doutrina filosófica, científica e religiosa que é, constitui a mais importante alternativa da Humanidade para pensar no presente, com o olhar voltado para a vida futura.
A nossa encarnação neste planeta, numa perspectiva espírita, é um estágio, um treino, uma aplicação dos conceitos que tivemos oportunidade de aprender no transcurso da vida. Jesus, quando afirmou diante de Pôncio Pilatos que “O meu reino não é deste mundo” (S. João, capítulo 19, V 36, reforçou a transitoriedade da vida terrestre e, por conseguinte, atribui um maior valor à vida no além-túmulo.
O Espiritismo é a grande promessa de Jesus para a posteridade. Ele nos vem esclarecer acerca do nosso presente e da nossa vida futura, que a todos nos aguarda.
Há religiões que ensinam que a alma depois da morte, tanto pode ir para o Céu, se foi boa, ou para o Inferno se foi má, mas isso contradiz a bondade de Deus, porque um Pai justo e bom, dá aos seus filhos, todas as oportunidades para ser feliz. Sendo Deus Amor e Misericórdia, não quer condenar um único filho que seja, perpetuamente a um fogo eterno.
O Céu, também não tem uma região demarcada. Há sim, Mundos Felizes, Celestes ou Divinos, que são habitados pelos Espíritos Puros, mas que não estão lá presos e na ociosidade. Um dia também nós os habitaremos, quando atingirmos a nossa perfeição absoluta.
O Espiritismo baseia-se nos ensinos de Jesus e tem como pilares fundamentais, a crença na existência de um Deus único, infinitamente Bom, Justo e Sábio, princípio inteligente do Universo e causa primária de todas as coisas; a crença na existência e imortalidade da Alma, criada por Deus à sua imagem e semelhança; a comunicabilidade dos Espíritos, que a Igreja católica designa por Santos e que está bem patente no Evangelho de Jesus segundo S. Marcos, cap. IX, ou em Mateus, cap. XVII, ou em todos os itens em que Jesus fala de espíritos impuros, ou espíritos imundos (Mateus. XII; 43 e seguintes; na reencarnação, que está expressa em Lucas, Cap. I quando Zacarias recebe a notícia da volta de Elias, como seu filho, ou em Mateus XI, quando Jesus aponta a volta de Elias, ou no cap. XVII, quando após o Tabor, para esclarecimento de Pedro, Tiago e João fala de tal forma que os textos referem expressamente que Jesus se referia a João Baptista como Elias, ou na moderna psiquiatria, quando a Regressão de Memória, seguida em Psicanálise, com recurso à Hipnose, veio afinal provar que, “Já Vivemos Antes “ e que a causa de inúmeros traumas ou fobias, está em existências anteriores, conscientes e reais, o que não estará longe da realidade do chamado “Pecado Original” dos crentes católicos, que não é mais do que o “pecado que dá origem à vida” e que é nosso; finalmente na Pluralidade dos Mundos habitados, bem presente na assertiva de Jesus, quando nos diz: na casa do Pai há muitas moradas.
François Brune, um dos grandes pesquisadores mundiais da Transcomunicação Instrumental, não tem dúvidas ao afirmar que os Espíritos (ou que se pode entender por almas das pessoas que já morreram), se comunicam através de aparelhos electrónicos e ele mesmo apresenta gravações áudio sobre essas experiências, já hoje levadas a cabo pelo próprio Vaticano, embora seja desconhecido da maioria dos dignatários da Igreja; à semelhança do que acontece com o famoso Museu “ Das Almas do Purgatório que tem sua sede em Roma e é propriedade do próprio Vaticano.
A Telepatia, ou seja a Transmissão do Pensamento entre seres humanos, é uma realidade. Tem já muitos anos de comprovação científica, o que quer dizer que nos podemos comunicar pelo pensamento, o que aliás a Parapsicologia aceita e defende ao considerar que há “sensitivos”, o mesmo é dizer, aparelhos humanos preparados para essa “transcomunicação”, ou para se constituírem em receptores e emissores do pensamento. Se não consideraremos que a alma não morre, que é o ser inteligente e sensível, que até sente as nossas orações, o que confirma a sua inteligência e sensibilidade, nada obsta a que se possam comunicar connosco através desse pensamento e que haja aparelhos que descodifiquem essas mensagens.
A mensagem espírita é uma mensagem de fé, de esperança e de confiança no futuro. A morte, para a Doutrina Espírita, não é um fim; é uma ponte que nos liga a uma outra dimensão da vida — a dimensão espiritual.
A prova da vida futura, através do intercâmbio com os Espíritos, é uma grande contribuição do Espiritismo experimental para os homens que habitam o nosso planeta. Desmorona o conceito de inferno, que confunde a bondade de Deus e assusta as almas ingénuas; cai por terra o conceito de Céu, que faz os homens sonharem com um mundo cheio de fantasias; no qual, para muitos, o trabalho é substituído pelo descanso eterno, e onde é marcado pela indiferença. Uma indiferença que nos leva a desprezar até mesmo os que mais amamos…
O Espiritismo não pactua com essas ideias. Não põe Deus ao nível do pensamento estreito do ser humano. Recordemo-nos novamente de Jesus quando nos ensina:” Porque o Filho do Homem veio salvar o que se tinha perdido”.
Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se tresmalhar, não deixa as noventa e nove no monte, para ir à procura da tresmalhada? (…Assim também é da vontade de vosso Pai, que está no Céu que não se perca um só destes pequeninos”. S. Mateus, cap. 18, V.II a 14). Com base nesta declaração do Mestre compreenderemos, quão grandioso é o amor de Deus por todos nós.
Parábola do Bom Pastor:” Tenho também outras ovelhas que não são deste aprisco; e importa que Eu as traga e elas ouvirão a minha voz e haverá um único rebanho e um só Pastor”. (S. João, cap. 10, vers.16;
O temor da morte resulta de vários factores inerentes à natureza humana e à sua existência corporal. Entre eles ressaltam:
a) o instinto de conservação da vida, que lhes constitui força preventiva contra a intemperança, a precipitação e o suicídio, não obstante desconsideradas nos momentos de superlativo desgosto, revolta, ou desespero;
 b) a predominância da natureza animal, que nos Espíritos inferiores comanda as suas aspirações, tendências e necessidades; c) o conteúdo religioso das doutrinas ortodoxas, que oferece uma visão distorcida quão prejudicial do que sucede após a ruptura dos laços materiais, elaborando um mundo de compensações em graça como em castigo, conforme a imaginação dos homens vitimados por fanatismos e alucinações;
 e) o receio de aniquilamento da vida por falta de informações correctas a respeito do futuro da alma e daquilo que lhe está destinado…
Através da Doutrina Espírita e dos esclarecimentos dos Espíritos Superiores, temos a certeza de que não há morte, não há juízo final, não há purgatório, não há inferno, não há limbo, não há Céu e o nada, também não existe.
Mas há, vida! Muita vida! Nesta vida, e para além desta vida, porque nunca morreremos!
Há sim, muitos lugares, os quais desconhecemos devido á nossa ignorância e à nossa pequenez, mas que um dia os descortinaremos. Há muita informação sobre isso, basta nos debruçarmos na literatura espírita, nomeadamente na colecção dos Livros de André Luiz, psicografados por Francisco Cândido Xavier, além de outros.
Os Espíritos Superiores alertam-nos, para bem vivermos! Para bem morrermos.
Uma consciência tranquila é sempre o meio mais seguro, para a passagem deste mundo para o outro, porque nada teremos a temer.
Kardec na pergunta 941, do Livro dos Espíritos: a morte é para muitas pessoas uma causa de perplexidade; mas porque essa preocupação, se elas tem o futuro pela frente?
R. A morte não inspira nenhum temor ao justo, porque a fé lhe dá a certeza do futuro, a esperança lhe acena com uma vida melhor e a caridade, cuja lei praticou, lhe dá a segurança de que não encontrará, no mundo em que vai entrar, nenhum ser cujo olhar ele deva temer.
Comentário de Allan-Kardec: O homem carnal, mais ligado à vida corpórea do que à vida espiritual tem na Terra as suas penas e os seus prazeres materiais. Sua felicidade está na satisfação fugidia de todos os seus desejos. Sua alma, constantemente preocupada e afectada pelas vicissitudes da vida, permanece numa ansiedade e numa tortura perpétuas. A morte o amedronta, porque ele duvida do futuro e porque acredita deixar na Terra todas as suas afeições e todas as suas esperanças.
O homem moral, que se elevou acima das necessidades artificiais criadas pelas paixões tem desde este mundo, prazeres desconhecidos do homem material. A moderação dos seus desejos dá ao seu Espírito calma e serenidade, sente-se feliz pelo bem que fez, não há para ele decepções e as contrariedades deslizam por sua alma sem lhe deixarem marcas dolorosas.
Fontes bibliográficas:
O livro dos Espíritos, O Evangelho Segundo o Espiritismo e o Céu e Inferno, todos de Allan-Kardec.
Aurinda Tavares